Desde 2009 que psicologia se tornou a minha paixão. Queria saber tudo sobre
aquilo que fazemos, todos os mecanismos que estão por detrás dos nossos atos.
Então enveredei pelo curso de Línguas e Humanidades, de modo a que as minhas
aptidões na escrita se mostrassem úteis para as minhas notas. O problema é que
quando saímos do nono ano habituados a ter êxito sem estudar, caímos num ensino
secundário de pára-quedas e não sabemos o que esperar. Não tinha ninguém na
família que me dissesse "estuda, vai estudando ao longo do ano porque
todos os pequenos trabalhos e testes irão fazer a tua nota final daqui a uns
anos". Safei-me. Décimo ano: 16,0. Décimo primeiro: 15,8. Foi, para mim, o
ano mais complicado. Talvez por ter começado a entrar (silenciosamente) em
depressão, pareceu-me um ano muito atarefado, e a sensação que eu tinha era de
estar numa corrida com mais 25 colegas, e enquanto eles chegavam aos 100 metros
naturalmente, eu corria com um piano preso à cintura e arrastava-me ofegante
para chegar ao fim. Mas não pensei que isso me fosse prejudicar. Chegou o
décimo segundo ano e surgiu um diretor de turma espetacular, que dispendia
tempo pessoal para o profissional, e que me (e nos) alertou para as médias de
entrada ao ensino superior e nos aconselhou a fazer tudo por tudo naquele ano
letivo de maneira a que as coisas corressem pelo melhor. Claro que havia de
tudo: alunos que lutavam ja à dois anos por notas altas; aqueles que iam tendo
nos testes o que calhasse; aqueles alunos que, sem visão de futuro, se riam perante
a notícia de teste no dia a seguir; e eu. Eu que me agarrei com unhas e dentes
o ano todo, lutei para tirar a melhor nota em cada teste, superar-me, poder
atingir os meus objetivos, ... e cheguei ao fim com uma média: 17,6. Tive
mérito por excelência.
Preenchi as seis opções de candidatura - Psicologia, Ciências da
Comunicação (Jornalismo, um excitante amor), Direito, Ciências da Educação, Sociologia, Criminologia - e esperei ansiosa e desesperadamente que chegasse o dia dos resultados. E ele chegou. Apareceu o sinal de um novo e-mail na caixa de entrada com o seguinte:
Instituição: [1114] Universidade do Porto - Faculdade de Direito
Curso: [9078] Direito
Caiu-me o coração ao chão. Os meus olhos
encheram-se de lágrimas e eu tratei de limpá-las para poder dar a notícia aos
meus pais. Não entrei por duas décimas. Os dias passaram. Fui-me habituando. Veio a praxe, vieram os novos
colegas, distraí-me. Mas as aulas são o meu pior pesadelo. Das 9h às 17h,
apenas com uma hora de almoço. É chato, aborrecido, as disciplinas não falam do
que eu quero, só me apetece chorar enquanto lá estou. Agora, com testes à
porta, chegou o momento de decidir se continuo nesta vida que sei que, a longo
prazo, me vai fazer infeliz, ou se deito tudo isto para trás das costas e tento
arranjar um emprego em que chegue um bom décimo segundo ano, e ganho dinheiro
em vez de gastar o dos meus pais.
Estou tão assustada.
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