Hoje dei-me ao trabalho de pensar como seria se não tivesse de te ver todos os dias, mas ocorreu-me logo a ideia de que o sentido quando digo ''tivesse de te ver'' é tão ou mais forte como se dissesse ''não pudesse ver-te''. Porque ver-te e sentir os teus lábios nas minhas bochechas tem tanto de bom como de mau, tanto de reconfortante como de devastador. E a melhor parte de todas (ironicamente falando) é de não saber o que sinto pelo que resta de ti em mim. Que nem é muito, nem é pouco.
A vontade de andar ás tuas cavalitas (reforço a ideia de seres a única pessoa em quem confio para tal) ou de te dar beijos no pescoço (não há pele como a tua) neutraliza-se com a recordação do que me fizeste.
Mesmo que não tenhas acabado com tudo, fez de ti pior pessoa, porque erraste sem a minima noção. E depois de tudo não merecia. Não estou a falar de mim, mas sim da nossa longa amizade, ela não merecia. Mais do que uma relação, com tudo o que ela pode ou não ter, com ou sem sexo, a base tem de ser sempre amizade. E eu sei que isso era importante para ti. Sei perfeitamente que não era uma qualquer, sempre soube, mas exigi sempre mais de ti, às vezes inconscientemente, talvez por impulso ou no meu subconsciente sempre soube que tinhas algo mais para me dar. E deste. Deste tudo o que podias, ou querias. Não sei. No fundo, deves ter pensado que ao me dares amor sem dizeres ''amo-te'' era o suficiente para mim, e enquanto eu te dava amor com ''amo-te'' á mistura, era o suficiente para ti. Mas não, eu não te chegava porque tu não me chegavas.
Havia uma parte de nós que se completava e outra que não, adivinha qual delas foi a que nos manteve.
E mesmo que tente não me lembrar, sei que só vai passar com o tempo. O peso que tinhas e que ainda pesa em cima do meu corpo; a tua respiração ofegante no meio do meu peito enquanto lentamente percorria todo o teu tronco com os meus lábios. (...) O medo aterrorizante sempre que a porta batia e o silêncio instalava-se mais do que nunca; as nossas linguas quentes e molhadas sempre á espera do próximo passo; o cansaço que se acumulava e sem esquecer, o teu suor colado ao meu enquanto mais nada havia sem ser nós, o escuro e aquelas horas.
(Foste quem mais tempo esteve comigo no escuro.)
Foste o único que eu senti que estava ao meu lado para o que desse e viesse. E não sou só eu que penso nisto, tu sabes que eu sei, amor.
Sei que por mais que não te queiras lembrar de mim, irás lembrar-te, para além de eu ter sido a primeira, era a única que estava á tua porta, no matter whats.
Não tentes substituir-me. Foi a mim que contaste os teus segredos.
Hoje, dia 10 de Novembro de 2009 decidi deixar o meu corpo, ou talvez o coração, ir onde quisesse ir. Sem ouvir a cabeça ou alguém a dizer para não o fazer, e dei por mim com as lágrimas a escorrerem-me pela cara à frente de tua casa. A tua casa que já foi um pouco minha também, e é talvez a única coisa nesta história que permanece igual. Pintada de branco, com três degraus á entrada, sem campainha, com a tua janela preta com a persiana meia fechada, meia aberta. Exactamente igual ás inumeras vezes que sai de lá.
Para este texto não tenho uma frase marcante em que tudo se resuma a ela, ou uma conclusao brilhante, apenas te digo que se "A cura de um grande amor é outro ainda maior" então Deus que faça um céu mais alto.
G, eternamente.
AnaFerreira
10-11-2009
Não me vou esquecer, prometo amor $:
ResponderEliminarO texto está lindo!
GOSTO MESMO MUITO DE TI «3