3 de setembro de 2013

Podia falar de mim durante horas - o bom, o menos bom, do que gosto, do que não gosto, quais são os meus sonhos e desejos - e nada disso me iria relembrar quem eu era. Apaixonei-me por ti e tudo era bom, não havia espaço no meu corpo, cabeça e coração para maldade. Depois de umas umas simples palavras, numa simples noite, num simples sítio, o meu simples amor tornou-se subitamente complicado. Tudo ficou turvo. O que eu pensava ser amor puro de beleza intocável tornou-se num monstro adormecido dentro de uma cave acabado de acordar. A frieza e o desprezo que me lançaste nas tuas palavras entraram como um tiro no meu peito e aí permaneceram, cresceram... Mataram-me aos poucos. Depois veio a mentira: a única coisa que pensei que não estivesse em ti. Tantas palavras, tantas verdades, tanta saliva, tanto tempo - para depois saber que a mentira pairava em cima de mim desde o início. Mais de um mês protegida numa redoma de vidro que, naquela noite, se partiu. Não quiseste que eu fosse de mais ninguém, não quiseste que eu desejasse outro corpo e outra alma sem ser os teus. Mas preocupaste-te mais com isso do que com o que não podias fazer para que isso não acontecesse. Sou complexa, eu sei. Mas no fundo da minha complexidade há uma simplicidade muito evidente: quero verdade e amor. Nem sempre me deste uma e outra. Nem tu te conseguiste dar a mim completamente. Não acreditaste na nossa relação ao ponto de te dares a mim a cem por cento... Disse-te uma vez e repito: "nem eu conseguia meter-me completamente numa coisa em que não acreditasse".
Podes não me merecer, tal como eu posso não te merecer a ti. Mas só saberemos se um de nós desaparecer. Vou ser eu. Há anos que não me sinto bem neste mundo. Anos. Já perdi muito e muita gente. Doeu-me, mas nunca me doeu tanto como perder-me a mim própria! Algures na minha existência perdi a minha essência, o que me fazia sonhar. Pensei que a tinha encontrado ao teu lado, porque somos iguais. Tudo o que de melhor havia em mim existe em ti. Sabes que eu quero ir para nova iorque seguir representação desde que tenho 14 anos? Não sabes, nem precisas de saber. Foi só mais uma coisa em que falhei. Todos me cortaram as asas e disseram para escolher algo mais "realista"... Nada é realista. Estou no curso de Direito e quando digo que quero ser advogada também há pessoas que dizem para eu ser "realista". O realismo das coisas depende de pessoa para pessoa. Para os doidos o realismo não existe, e esses ter-me-iam dito para seguir o que eu quisesse seguir. Mas já não há doidos, sabias? Só pessoas feias por dentro, sem nada para dizer aos outros, que pensam que já viveram tudo, e que tudo aquilo que vivem é o auge do que podiam ter vivido. Essas pessoas não sonham e ficam felizes com pouco. Eu não, nunca me contentei com o que tinha. Sempre lutei. Sempre! Mas há o dia em que o lutador se cansa e se rende à luta. Há o dia em que o lutador desiste, quando sabe que só perde. Hoje é esse dia para mim. Foste a minha última batalha, e as últimas batidas do meu coração serão tuas. Dedico-te isso. Tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou, por muito que eu ache que valha pouco, será sempre teu. Um dia estarás no altar à espera da noiva mais bonita do mundo, viverás ao lado da mulher da tua vida e a Maria João terá a melhor mãe do mundo, e o pai.
Disse no inicio e mantenho a minha palavra: és a melhor pessoa do mundo. Eu é que não te consigo acompanhar. Mereces muito mais do que isto que tens - alguém que te chateia. Sei que juntos poderíamos encontrar um sítio que raramente pessoas comuns encontram... Mas o passado volta, as ruínas do teu passado voltam sempre para me matar um pouco mais. E morrer aos poucos dói mais do que morrer de uma só vez. Eu sou pouco para ti, e seriam precisas muitas noites de amor para me provar o contrário. Coisa que nós não temos. Falta-nos coragem. Falta-me coragem para ir ter contigo a meio da noite, mas amor não me falta. Nunca faltou. Desde o primeiro dia que te vi e que falaste para mim, desde o dia em que me agarraste o braço para eu não sair da tua beira depois de dizeres algo estúpido... eu sabia que tínhamos algo para viver juntos. Isto nunca te disse, mas naquela noite desejei que nunca me tivesses dito nada de mal, porque já sabia que ia gostar muito de ti. Amo-te, para sempre.

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